Dino e Eu

Dino e Eu



Esta pandemia nos trouxe novamente o território incógnito e misterioso do sonho. Mas parece que um vírus ainda mais estranho penetrou profundamente a casca grossa do inconsciente. 


Na última noite sonhei que eu e o Flavio Dino viajávamos de carro pelo interior do país. Mas não era no seu Maranhão solar, mas sim pelas estradas de um Rio Grande do Sul nublado e frio. 


Éramos só nós dois no automóvel e ele mesmo dirigia. Há um sentido nisso, pois detesto dirigir. Mas não sei se ele me pedisse para pilotar se eu recusaria. Mas acho que estávamos mais seguros com o governador comunista no volante. 


Conversávamos bastante, lembro-me bem. Era uma conersa amistosa, mas não sei se era sobre o Brasil. Lembro apenas que eu concordava bastante com tudo que ele dizia. As estradas do Rio Grande eram bonitas, verdes, e as cidades eram floridas. Mas havia muitas névoas na estrada. E frio. 


Numa cidade paramos numa pousada para descansar. E neste ponto, perdi o Flavio Dino de vista. Ele deve ter ido pro quarto dele.


No saguão mesmo da pousada havia uma moça sorridente com cabelo curto e preto, de franjinha,  enrolada na toalha. Ela me disse que ali na pousada tinha uma sauna. 


Eu tirei a roupa e me enrolei numa toalha para ir para a sauna atrás daquela moça do sonho. 


Na sauna todos ficavam nus, inclusive a moça. Inclusive eu,  que deixei a toalha não sei onde. Também me lembro de ter observado o púbis liso da moça. 


A sauna foi ótima, pois o sonho estava deliciosamente quente, mas para dizer a verdade não me lembro de nada do que aconteceu lá dentro. Portanto, não me perguntem maiores detalhes. 


Depois eu fui, não sei como, para o quarto da moça.  Foi estranho: o quarto era totalmente envidraçado. Não havia paredes, mas apenas vidros. O quarto dava para a entrada da garagem e era completamente devassado.  


Ficamos nus no quarto, mas eu estava preocupado porque quem entava pela garagem nos veria pelados. Aquilo era realmente constrangedor. 


Talvez por causa desse constrangimento, nós não transamos. No entanto, não sei exatamente como, fiquei excitado e me masturbei na frente da moça do sonho. Mas não me recordo se ejaculei ou não. 


E o sonho então teve uma interrupção. Corta para outra cena do sonho onde há um churrascão em que eu estava com amigos antigos e havia samba e música ao vivo e bebida e farofa. Havia muita gente e todos estavam lá, alegres e felizes. A pandemia não existia. Havia samba, sol,  o ar livre e as amizades. 


Então acordei. 


E o Flavio Dino? Não sei mais. Deixei-o na pousada da garota da toalha de sauna nua de cabelo curto e preto e púbis liso do quarto envidraçado do sonho.  

(Conto escrito para o encontro de 14/07/2020 para o mote Se o Diablo falasse de Jodorowsky)

O carioca Guilherme Preger é escritor de verdade



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