A Profissão de Papai
(Trecho do livro "O Interesse pelas Coisas", lançado em 16/02/17 por Eduardo Villela)
Quando
menina quis saber o que papai fazia. Era sempre um mistério, a porta do
escritório trancada. Mamãe me distraía e não deixava nem chegar perto da maçaneta.
Papai saía do escritório para almoçar conosco, sempre meio calado, e, às vezes,
segurando a valise preta, deixava o apartamento para voltar só dali a algumas
horas. Aonde papai foi, mamãe? Pra uma reunião de trabalho, querida. Ele vai demorar? Acho que não...
Não
saber com o que papai trabalhava foi crescendo assim como uma coisa normal pra
mim, algo que sempre esteve ali no meio do caminho. Tanto que as garotas na
escola diziam o que o pai delas faziam e eu inventava uma coisa qualquer:
advogado, cobrador de ônibus, médico. Eu não precisava saber com o que papai
trabalhava ou, melhor que isso, a profissão de papai era misteriosa e por isso
mesmo mais bacana que todas as outras. Minha família não tinha nada de
diferente ou errado, as demais é que eram monótonas. E papai, sempre calado.
Mote para o encontro de 07/03, lido por Eduardo Villela
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