Pornopopéia - Reinaldo Moraes
Pra cair de boca
Recomendação
de leitura por Tiago
Velasco
Cara, você tem
que ler “Pornopopéia” (Ed. Objetiva), do Reinaldo Moraes. Sério. Tem que ler
mesmo. Até pensei em indicar outros dois, grandes livros de autores brasileiros
contemporâneos como o Reinaldo, mas não vou nem citar pra você não perder o
foco. “Pornopopéia”. Guarda esse nome, compra esse livro, pega emprestado, sei
lá, apenas leia. Não é difícil lembrar de uma epopeia pornográfica, né? E, bem,
o nome já é estimulante por si só. Então, leia.
Vou aperfeiçoar
o meu argumento, que é pra você não ter dúvida alguma de que deve se concentrar
em cada linha das 475 páginas. Melhor, vou deixar o Reinaldão mesmo te
convencer:
Vai,
senta o rabo sujo nessa porra de cadeira giratória emperrada e trabalha, trabalha,
fiadaputa, Taí o computinha zumbindo na sua frente. Vai, mano, põe na tua
cabeça ferrada duma vez por todas: roteiro de vídeo institucional. Não
é cinema, não é epopeia, não é arte. É – repita comigo – vídeo institucional. Pra ganhar o pão, babaca. E o pó. E a breja. E
a brenfa. É cine-sabujice empresarial mesmo, e tá acabado. Cê tá careca de
fazer essas merdas. Então, faz, e não enche o saco. Porra, tu roda até pornô de
quinta pro Silas, aquele escroto do caralho, vai ter agora “bloqueio criativo”
por causa de um institucionalzinho de merda? Faça-me o favor.
Esse é só o
primeiro parágrafo do livro. Sacou a força do cara? É um Bukowski melhorado à
enésima potência. Porque toda a putaria, as drogas, os porres ganham um
tratamento estético genial, com aqueles trocadilhos masculinos típicos de
adolescentes descerebrados. Sabe, Reinaldão bota todos eles no texto e a gente
morre de dar risada e de se perguntar como o cara conseguiu fazer isso, como
ele teve coragem de escrever aquelas palavras, neologismos juvenis, e não
deixar dúvida de que é grande literatura. Fora as situações estapafúrdias que o
protagonista se mete a partir da falta de inspiração – ou apenas falta de saco
– para escrever o roteiro de um vídeo institucional para uma empresa de
embutidos de frango.
“Pornopopéia”,
pra mim, será lembrado pela grande experiência de linguagem conduzida por esse
personagem-narrador em primeira pessoa descaralhado. E também, como Marcelo
Mirisola uma vez comentou comigo em um lançamento de livro na calçada em frente
à Editora Oito e Meio, pela descrição maravilhosa de cerca de cem páginas – não
contei, mas vou na onda do MM – da surubrâmane (suruba brâmane), uma síntese de
toda a sacanagem, grosseria e incorreção política contida no livro.
Não se
convenceu? Então, um hacai pra você, ó!!!! (“dotado de um pequeno apêndice”):
Ó Sossô
sacana
larga o
negro mangalho
e cai de
boca n’alva cana!
(Caralho!)
Comentários
Postar um comentário