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Mostrando postagens de maio, 2021

Três esquetes para períodos pandêmicos, por Guilherme Preger

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  Três esquetes para períodos de confinamento Personagens: M:Mulher. H:Homem. Local: cidade da América do Sul. Tempo: Futuro distante. Situação: Pandemia misteriosa e letal obrigou os seres humanos de todo o planeta ao confinamento em seus apartamentos e casas por anos. Esquete 1: Contatinhos M: Amor, o que você tanto vê no seu celular? H: Amor, estou escrevendo meus posts filosóficos e políticos. O que mais tenho para fazer? M: Ah, deixa eu olhar... H: Não! Assim, você me desconcentra e eu não consigo escrever. Não tem nada mais útil para fazer? M: Ah, eu já sei. Você está é novamente falando com seus contatinhos, né? Deixa eu ver. Onde estão aquelas biscoiteiras? H: Como assim, biscoiteiras, Amor? Eu não conheço biscoiteiras. Tenho apenas amigos e amigas. M: Mentira! Você fica aí conversando com seus contatinhos que eu sei. E você virou o maior de todos os biscoiteiros! Por que você postou aquela foto sem camisa na rede social, hem, hem? Você pensa que eu não

Pessoas promíscuapromíscuas de água e pedra, de Thais Lancman

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Pessoas promíscuas de águas e pedras - Thais Lancman  “Barulho de motor. Um pequeno forno e tubos de ensaio que formavam o laboratório, ou ateliê, como Miri preferia chamar. Era lá que ela passava as horas, obstinada em transformar o ofício em negócio eficiente. Foi-se o tempo em que a estação de trabalho era sua cama, e que os líquidos eram armazenados em copos de requeijão, deixados ao sol para um processo de evaporação moroso. Passado. Miri pausou a centrífuga para ouvir o que se passava no quarto ao lado. Choros e soluços, estava tudo indo de acordo. De volta ao trabalho, Miri pensou, satisfeita, em como já não se parecia mais com aquelas moças. Miri tinha estabelecido metas na coleta de lágrimas para as funcionárias cumprirem, um volume que sabia bem ser alcançável, era mais uma questão de empenho do que vocação. Os tubos de ensaio deveriam ser entregues a Miri a cada três horas, e ela cuidava do resto. Tinha esperança de que alguma delas logo pudesse ser sua substituta, se fosse

Camming, por Guilherme Preger

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  Camming Diga-me o que você está pensando... Bem, essa pandemia está me fazendo repensar algumas coisas na minha vida, mudar alguns valores... Hummm. Conte-me mais sobre isso. Foi um pensamento que tive desde aquele problema com o Guido. Já te falei sobre ele. Meu melhor amigo, mas que me decepcionou por ter me enviado umas fotos meio inapropriadas. A princípio fiquei muito zangada com ele, puta mesmo. Depois conversando com algumas amigas do peito, fiz novamente as pazes com ele. Afinal, nós nos adoramos. Vocês se adoram em que sentido? Bem, é só amizade. Nada demais. Nunca transamos. Quer dizer, nunca nos relacionamos sexualmente. Você sabe que não há relação sexual, segundo a psicanálise. Sim, isso eu estou aprendendo. Você já me explicou. Essa pandemia está sendo uma provação. Ela me pegou solteira. Há mais de um ano que não durmo com ninguém. Tive que comprar uns brinquedinhos. Minhas amigas todas estão se divertindo com brinquedinhos. Às vezes funci

O amor de Pedro por João, por Tabajara Ruas

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Ela tornou a rir a sua risada perfeita e escarnecedora, cravando-lhe os olhos curiosos e atentos. Marcelo sentiu que se enchia outra vez de desejo e de fúria, da necessidade de provar a essa mulher que era homem, sentiu vontade de arrancar-lhe a leve camisa de linho que vestia. Mas, no dia seguinte, ao voltar da praia, é que foi o meio-dia em que encontrou-se com ela na porta que dava para a varanda, em que cegado por súbita e louca coragem, enlaçou-a pela cintura esperando que o mundo desabasse, em que sentiu as pernas fraquejarem ao vê-la apenas sorrir e apoiar displicentemente o braço no seu ombro, em que riu para sua ereção impossível de dissimular, em que o copo de caipirinha se estilhaçou no piso oferecendo ao ar da casa o cheiro acre e adocicado da bebida, em que a ereção transformou em força a fraqueza de suas pernas, em que sentiu em si um cavalo, um jovem cavalo suado no pasto, um garanhão arfante, de cascos afiados e longas crinas negras, que relincha, que freme, que fareja