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Mostrando postagens de setembro, 2018

Lero lero que eu também quero, por Fernando Andrade

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Me dá, disse o garoto de rua. Vai trabalhar vagabundo.  Vai chover canivete, diz o coro.  Estou com fome, me dá! merda. Eu já falei, que para comer o pão o diabo precisar amassar ou deformar. Caralho para com estas imagens idiotas. Estou pedindo um regalo e que passa pelo gargalo. Galopa, cavalo, a quem se mostra os dentes, à cavalo, não se dá por contente. Porra, não tô aguentando mais esta diatribe verborrágica poética. Vai tomar no rabo da sua lagartixa. Se regenere meu jovem, vai para a igreja de São Judas, tá deu?  Eu vou te enfiar a faca, seu poeta de merda, me passa a grana do dia. Eu preciso ir me já. Ficaria aqui por alguns segundos? tomar conta de abacaxis, pera, aí,  tenho algo a lhe contar. O Juvenal tem uma carrocinha comunista. Vende churros e precisa que alguém tome conta. Está disposto a esta enxurrada de tempo is money. Não tenho dialética para engorduramentos, sou mais esta sua barraca legalminosa. ( tradução - leguminosa) Colega se eu te deixar aqui você vai con

Espiral, de Geovani Martins

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Começou muito cedo. Eu não entendia. Quando passei a voltar sozinho da escola, percebi esses movimentos. Primeiro com os moleques do colégio particular que ficava na esquina da rua da minha escola, eles tremiam quando meu bonde passava. Era estranho, até engraçado, porque meus amigos e eu, na nossa escola, não metíamos medo em ninguém. Muito pelo contrário, vivíamos fugindo dos moleques maiores, mais fortes, mais corajosos e violentos. Andando pelas ruas da Gávea, com meu uniforme escolar, me sentia um desses moleques que me intimidavam na sala de aula. Principalmente quando passava na frente do colégio particular, ou quando uma velha segurava a bolsa e atravessava a rua pra não topar comigo. Tinha vezes, naquela época, que eu gostava dessa sensação. Mas, como já disse, eu não entendia nada do que estava acontecendo. As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se comparamos a outras favelas na Zona Norte, Oeste, Baixada. De certa forma, entendo esse pen

O sonho de Luzia, por Guilherme Preger

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Imagino Luzia fugindo de algum sapiens macho, violento, estuprador. Ela está há dias numa caminhada de fuga solitária, extenuante. Ela abandona a Zona da Mata, onde o bote de algum animal ou o abraço forçado do macho (os machos são inimigos) é sempre iminente. Ela alcança a região do sertão, de suas veredas e rios, da mata rasteira do cerrado, onde pode ver de longe a aproximação do inimigo. Ela deve ter pensado: viver é muito perigoso . É quase noite, mas ainda há luminosidade. Ela procura um rio onde possa beber água e limpar suas feridas. Há em seu corpo frágil rasgos da vegetação espinhosa, cortes de pedras afiadas, cicatrizes das lutas pela sobrevivência. Ela vê o regato do rio colorido pelo sangue de suas veias e de sua menstruação. A noite é deslumbrantemente estrelada no céu límpido do planalto americano. Ela ouve o cicio das folhas e o zumbido dos insetos. Ela ouve um choro de criança, mas que deve vir de sua própria imaginação. Então ela deita e dorme. Não há tempo pa