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Mostrando postagens de fevereiro, 2021

A Caixa, por Guilherme Preger

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  O doutor Adolfo Minguela, médico, formado na Universidade Gama Filho no Rio de Janeiro e doutor pós-graduado em Epidemologia na Freiburg Universität, na Suíça, olhou aquela caixa de caixas. Eram 100 caixas coloridas de verde e amarelo no interior da grande caixa preta. Ele pensou na antiga caixa de Pandora, que na verdade não era caixa, mas um vaso, ou uma ânfora, semelhante a uma vagina. Epitemeu abriu o vaso e de dentro escaparam os eflúvios de Pandora, que desgraçaram a humanidade. Faltou apenas a esperança que permaneceu no vaso. A esperança é aquela que permanece. A mensagem do Ministério era transparente como um comando: as caixas foram fornecidas gratuitamente, pagas por empresas que preferiram se manter no anonimato e deveriam ser distribuídas imediatamente. Os médicos precisavam enviar relatórios semanais do destino da distribuição e de quantos pacientes (na medicina não existem doentes, apenas pacientes) estavam sendo atendidos. No entanto, não havia espaço para relatar

Crônicas Marcianas, por Ray Bradbury

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  Agosto de 2001- Os Colonizadores Os Homens da Terra chegaram a Marte. Foram para lá porque tinham medo ou não, porque eram felizes ou não. Porque se sentiam como Peregrinos ou não. Cada um tinha seu motivo. Estavam deixando para trás más esposas, empregos ruins ou cidades ruins; foram para lá para encontrar algo, abandonar algo, desencavar algo, enterrar algo ou deixar algo de lado; Chegavam com sonhos pequenos ou sonhos grandes, ou com sonho nenhum. Mas o dedo do governo apontava de pôsteres a quatro cores em várias cidades: HÁ TRABALHO PARA VOCÊ NO CÉU – CONHEÇA MARTE!, e , porque a maioria se sentia muito enjoada antes mesmo do foguete subir ao espaço. E essa doença se chamava Solidão, porque quando viam sua cidade natal ficar do tamanho do punho, depois de um limão,, e então da cabeça de um alfinete, acabando por desaparecer no rastro de fogo, sentiam-se como se nunca tivessem nascido, se a cidade não existisse em lugar nenhum, rodeados pelo espaço, nada conhecido, só out

Se Deus me chamar não vou, Mariana Salomão Carrara

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Às vezes não durmo. Principalmente quando o dia foi tão péssimo que eu não quero que o outro dia chegue porque fico pensando que vai ser pior. Daí, antes de eu desenvolver uma nova técnica, eu comecei a chantagear deus.  Mas era uma chantagem estranha porque eu não tinha muito poder e pode ser que pra ele não tivesse importância que uma menina parasse de vez de acreditar nele. Ou pode ser que ele não exista mesmo, eu ainda não decidi, e algo me diz que a minha opinião sobre isso não tem a menor importância pra ele, se ele existir, enato eu posso demorar o quanto eu precisar.  Eu dizia que se eu não dormisse em quinze segundos, deus não existia. E começava a contar. Cada vez que chegava perto dos quinze, eu dava uma chance pra ele, esticava até trinta, depois até um minuto, afinal ele podia estar ocupado ou não ter me escutado, e quanto mais perto chegava do sessenta mais eu me agitava, um pouco com medo de dormir de repente e depois acordar muito assustada com a presença desse deus, ma