O rei silenciado - Andréa Rodrigues
O rei silenciado
Alice
estava muito chateada de ter de ouvir de alguém que ela só existia no sonho do
rei. Ela tinha muito medo da existência mas ao mesmo tempo não queria nem
pensar na possibilidade de desaparecer. Não era possível que ela precisasse mesmo
viver naquela condição, depender assim de alguém para estar ali. Pensou se
haveria um modo de libertar-se disso. Observou em volta e avistou uma trilha,
no meio de muitas árvores. Começou a andar por ela, bem devagar. Pisava com
muito cuidado naquele chão cheio de galhos, com medo de acordar o rei.
Continuou andando e percebeu que a trilha ia ficando mais larga. Começou a caminhar mais rapidamente e de
repente, ao ver que o rei não acordava com seus passos, passou a correr.
No
meio do caminho, foram aparecendo algumas casas, com luzes acesas e barulho de
vozes vindo do interior. As casas iam ficando cada vez mais frequentes, até que
ela encontrou uma praça e concluiu que tinha chegado a uma pequena cidade.
Estava de noite e havia uma festa na rua. Ela pensou em falar com alguém,
perguntar se estava sendo vista e ouvida, se ela existia realmente. Mas as
pessoas estavam tão agitadas com aquela festa, que seria difícil abordá-las,
principalmente porque Alice achava que suas perguntas seriam absurdas. Já
estava ficando meio tonta e acabou esbarrando em uma criança com tamanha força
que foi parar no chão. Ao se levantar, uma menina perguntou-lhe: Você se
machucou? Só ali Alice se deu conta de que não ouvia mais o barulho do rei
dormindo. Estava livre. Era real. Agora o que lhe restava era existir.
Conto escrito para o encontro de
23/06/2015
Andréa Rodrigues é professora de Prática de Ensino
de Língua e Literatura na UERJ e frequenta o clube da leitura desde abril de
2013.
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