Entrevista: Lisa Alves, autora de "Arame Farpado"
Entrevista
por Daniel Russell Ribas
1 - Como surgiu o livro "Arame
Farpado"?
"Arame Farpado" é uma obra que surgiu sem a pretensão de ser. Cada poema do livro
tem um contexto e tempo diferenciados e foram compostos fora de uma imagem de
série. Contudo chegou um tempo em que resolvi triar uns trezentos poemas escritos
ao longo de dez anos. E em oitenta e um poemas consegui discernir uma conexão:
todos transportavam a metáfora do "Arame Farpado".
2) As minorias são tema de diversos
poemas. Isto foi intencional ou algo que surgiu na composição da obra?
Todos os poemas são intencionais. E falar de minorias não é só falar do gay, do
índio, do negro, da mulher, mas antes de tudo é falar do meu território. O
Brasil viveu e ainda vive em uma situação de subordinação socioeconômica,
política e cultural.
3) Você acha que a literatura deve
ser política?
Não. Apesar disso eu consigo afirmar que toda literatura é política. Mesmo se
tratando de literatura erótica ou de um diário de um beberrão comedor de
putas. Lembrando que política é um termo
imensamente vasto.
4) Além de poeta, você escreve
prosa. Existe uma diferença para você na forma como trabalha estes formatos?
Sim. Eu me sinto mais livre com a poesia, livre até da palavra. Já a prosa
exige muito (principalmente disciplina). Talvez por isso não tenha produzido
tanto quanto produzi poemas. Tenho duas novelas incompletas, dois projetos de
livros de contos parados. Mas eu tenho a sensação que até no segundo semestre
de 2016 concluo meu livro de contos.
5) Qual é a importância de eventos
culturais, coletivos e divulgação literária atualmente?
Os eventos culturais têm o papel de aproximar a população do bem cultural e é
essencial para formação de públicos. Os coletivos estão surgindo como
cooperativas do bem e a tendência é que comecem a questionar a questão dos
direitos autorais. O que, diga-se de passagem, já está passando da hora. A
indústria cultural no Brasil é bilionária e a maior parte dessa riqueza
retirada de um bem cultural sempre cai nas mãos das mesmas pessoas. Até quando
seremos o escritor ou artista operário com duas jornadas de trabalho (quando
não mais)? Devemos lembrar que o maior bem de um livro é o seu conteúdo. E
voltando aos coletivos, eles tem dado um levante na questão das publicações
independentes. Escritores estão gerando ISBN, diagramando e contratando as
mesmas gráficas que a editoras utilizam (quando já não têm o maquinário). Eu
acho que no atual contexto em que vivemos e com o processo de evolução das
sociedades para a autogestão o autor naturalmente se tornará um profissional
independente. As próprias editoras (e me refiro as grandes, as sanguessugas
mesmo) estão exigindo que os escritores façam o trabalho de venda, que participem
das feiras, mesmo quando o autor não tem absolutamente nada para dizer ou
nenhum talento que não seja a escrita (que já é um grande talento). Tenho
encontrado muitos autores insatisfeitos com o universo editorial. Muitos se
sentem enganados, explorados e é um sentimento bem comum nas conversas que tive
(tanto sobre pequenas e grandes editoras). Eu sigo a seguinte filosofia: se é
para fazer quase tudo, então eu faço tudo.
Sobre
a divulgação literária hoje creio que é bem mais ampla e rápida, é só saber
utilizar as ferramentas de maneira certa. A rede social e os blogs no meu caso foram
essenciais.
Só
aproveitando o espaço: em breve O Coletivo Púcaro vai disponibilizar aulas de diagramação de livros no site e na
página do face [www.facebook.com/coletivopucaro?fref=ts]. É só seguir a página
e aguardar.
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