Cem anos de solidão - Gabriel Gárcia Marquéz
Cem anos de solidão
Recomendação de leitura por Claudio PS
Numa noite de dezembro de 2013 fui presenteado com um exemplar. Muitas
vezes fugi do livro, temendo me apaixonar e viver o luto do término da leitura,
leitura essa que previ ser difícil por que as sequencias de aparecimentos de
novos personagens me confundiam, desde os primeiros capítulos.
Uma amiga falou de uma genealogia disponível na Internet. Recusei
silenciosamente. Milhões de leitores não a usaram, por que eu usaria? Não era
presunção, mas eu queria testar a mim mesmo, passar pelo batismo de fogo.
Enquanto dirigia numa estrada mexicana, foi que Gabriel Gárcia Marquéz, vislumbrou
a frase de abertura de “Cem anos de solidão”: “Muitos anos depois, diante do
pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela
tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. Cien años de
Soledad, mil novecentos e sessenta e sete. América Latina envolta em anos de
chumbo. Era difícil sonhar. Marquéz sonhava e contava seus sonhos febris.
A saga dos Buendía, por sete gerações,
na qual o autor parece se divertir com nomes repetidos, uma narrativa repleta
de personagens e situações fantásticas: José Arcadio, Úrsula Iguarán, a mulher
que vive mais de 115 anos; José Arcadio Segundo, Maurício Babilônia, o
mecânico, sempre envolto em uma nuvem de borboletas amarelas; ou o cigano
Melquíades, com mãos de pardal.
O poderoso imã, xarope da invisibilidade, gelo fantástico, um navio
abandonado, ciganos. Uma louca história. Ou várias histórias loucas?
O livro parecia me contaminar, numa febre insone. Não era como outros
livros que se lê em duas semanas, aos poucos.
“- Quero ficar sozinho com você – dizia ele. – Um dia destes, conto tudo
a todo mundo e se acabam os segredos.”
Ela não tentou apaziguá-lo:
“-Seria ótimo – disse. – Se estivermos sozinhos, deixamos a luz acesa
para nos vermos bem, e eu posso gritar tudo o que quiser sem que ninguém tenha
que se meter, e você me diz no ouvido todas as porcarias que lhe vierem à
cabeça.”
E a febre seguia: Amaranta, Rebeca, Remedios, “Coronel” Aureliano,
guerra, Aureliano Segundo, Fernanda, Petra, Meme, Amaranta Úrsula, sem se falar
nos outros tantos não membros da família, a chuva de quatro anos, onze meses e
dois dias, pergaminhos...
Mas a febre chegaria ao fim, depois de tantas lutas, histórias
fantásticas, amores, desilusões, vivos e mortos.
E entrei em luto. Mas não para sempre.
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