Trump e seu trompete, de Fernando Andrade
Trump
morava numa pocilga perto Da rua do Lavradio, cujo nome do lugar
lembrava algo que coça bastante. Hotel Pulga. O nome do dono era
Homero Pulga Jacinto. Todo dia ao subir as escadas Trump via a
palavra do nome da rua rabiscada no corrimão da escada. Lavradio.
Tinha
alguma mania por palavras rabiscadas, depois claro das palavras
cruzadas.
Alguém,
talvez algum vizinho tinha colocado à faca, talhado na madeira do
corrimão a seguinte mensagem talvez a ele que saía de noite para
tocar.
Lavra
o seu trompete.
Rá Rá Rá.
Trump
tocava no quarto. Ele na verdade ensaiava para o show depois da meia
noite num Night show ali perto da rua do Livramento. Ele trump,
gostava muito do seu trompete. Tocava com a boca igualzinha do Miles
Davis. Ele tinha por hábito tocar em surdina porque achava que o som
do instrumento era lascivo. O hotel era mal afamado, com uma
clientela perdida num filme a lá David Lynch. Ele não queria fazer
trilha nenhuma para qualquer tipo de trama a ser implantada naqueles
corredores mal iluminados e que por penúria só tinha um banheiro
comunitário. Já diziam seus colegas músicos que tocavam com ele,
Trompete é coisa demoníaca. Parece um vagido saído de uma tristeza
dodecafônica.
Trump
um dia-noite estava na sua poltrona com o seu trompete num banquinho,
repousado, quando ouviu um urgido ou talvez um mugido como se
houvessem colocado ali um boi no hotel pulga. Ele saiu do quarto e
olhou idoneamente para os dois lados do corredor. O som do mugido
parecia que vinha do apartamento do seu Homero. Ele já com certa
lassidão resolveu subir as escadas que levavam ao último andar.
Chegou bem perto e resolveu voltar e trazer seu trompete. Aquilo
parecia vir de um (a) trompeta. Ou uma corneta. Do tipo que se toca
em estádios de futebol. Já era quase meia noite. O show era pontual
como uma pulga que radiografa um palco e suas coceiras. Dali começou
um solo de jazz a lá Davis com Marcus Miller, alegro ma non tropo.
Aquilo parecia um tanto flamenco. Homero abriu a porta e perguntou o
que o senhor está fazendo aqui? Trump. Eu vi ou melhor ouvi um ruído
vindo daqui? Sim, ouviu, é minha esposa. E o que ela está fazendo?
Pegando folego ou resfolegando. E Trump, pesaroso, não sabia onde
enfiar o seu trompete. Vou lavradiar
essa noite na sua conta. Seu estropício!
Trump
saiu para o seu Night show.
Trompeta
- Significado: Indivíduo desprezível, velhaco, sem préstimo.
Indivíduo
que acaba com o prazer do outro, desmancha prazeres.
Trompete
– significado: É um instrumento musical da família dos metais que
se caracteriza por instrumento de bocal e feito de metal. Usado em
diversos gêneros musicais principalmente o jazz e o clássico.
Trump
– Indivíduo falastrão que curte bisbilhotar a vida alheia.
(Conto lido no encontro de 18/10/2016)
Fernando Andrade, 48 anos é jornalista. e poeta.trabalhou por 10 anos como livreiro. Foi auxiliar de acervo na Biblioteca parque. Colabora com resenhas de cinema literatura e musica para site Ambrosia. Tem dois livros publicados de poesia pela editora oito e meio: Lacan por Câmeras Cinematográficas e Poemometria. Participa do Clube da leitura tendo um conto na coletânea volume 3.
Comentários
Postar um comentário