Mote do encontro (02/ 02/ 16)



Mote lido por Daniel Russell Ribas

Fight Club

 



Aquele velho ditado, você mata aqueles que ama, bom, olhe, funciona nos dois sentidos.
Com uma arma em sua boca e o cano entre os dentes, você só consegue pronunciar vogais.
Faltam dez minutos.
Outra janela explode do prédio e o vidro voa como uma revoada de pombos brilhantes, e, então, uma mesa de madeira escura é empurrada de lado pelo Comitê de Destruição aos poucos até ceder e deslizar e virar de ponta-cabeça em uma coisa mágica perdida na multidão abaixo.
O prédio Parker-Morris não estará aqui em dez minutos. Você pega uma quantidade suficiente de explosivo gelatinoso e a envolve nas colunas de sustentação, e derruba qualquer edifício no mundo. Você gruda forte e aperta com sacos de areia de modo a explosão agir na conta e não no estacionamento e arredores.
“Este faça você mesmo” você não encontra em livro de história algum.
As três receitas para fazer napalm: Um, você mistura partes iguais de gasolinas e suco de laranja. Dois, você mistura partes iguais de gasolina e coca diet. Três, você dissolve cocô de gato esmagado em gasolina até a mistura engrossar.
Pergunte-me como se faz gás asfixiante. Ah, aquelas bombas doidas em carros.
Nove minutos.
O prédio Parker-Morris cairá, todos os cento e noventa e nove andares, lento como uma árvore na floresta. Madeira. Você consegue derrubar qualquer coisa. É estranho pensar que o local onde está em breve será um ponto no céu.
Tyler e eu na beira do terraço, a arma em minha boca. Penso o quão limpa está a arma.
Nós quase nos esquecemos de todo esse negocio assassinato-suicídio enquanto assistimos a outro arquivo virar para o lado do prédio e as gavetas abrirem em pleno ar, resmas de folhas brancas pegas pela corrente e carregadas pelo vento.
Oito minutos.
Então, a fumaça, a fumaça sai das janelas quebradas. A equipe de demolição apertará a função primária em oito minutos, talvez. A função primária atingirá a função-base, as colunas de sustentação irão desaba e a série de fotografias do prédio da Parker-Morris será histórica.
A série de cinco fotografias em intervalos de tempo. Aqui, o prédio em pé. Segunda foto, o prédio em um ângulo de 80º. Então, em 70º. O prédio em 45º na quarta foto quando a sustentação começa a ceder e a torre forma ligeiramente um arco. A última foto, a foto, a torre, todos os cento e noventa e nove andares, cairão no museu nacional, que é o alvo real de Tyler.
“Este é nosso mundo, agora, nosso mundo”, diz Tyler, ”e estes ancestrais estão mortos”.
Sete minutos.
No topo do prédio Parker-Morris com a arma de Tyler na minha boca. Enquanto gavetas, arquivos e computadores desabavam na multidão abaixo e fumaça saía das janelas quebradas e três quarteirões atrás na rua a equipe de demolição observava o relógio, eu sabia disso: a arma, a anarquia, a explosão foram por causa de Marla Singer.
Seis minutos.


PALAHNIUK, Chuck. Fight Club. Great Britain: Vintage, 2006.




Chuck Palahniuk é um escritor estadunidense que nasceu no dia 21 de fevereiro de 1961. O seu primeiro livro publicado foi “Clube da Luta” em 1996, sendo adaptado para o cinema em 1999. Jornalista de profissão, Palahniuk já foi lutador amador, caminhoneiro e até mecânico de automóveis. Teve o pai assassinado com a namorada pelo ex-marido dela. Quando era adolescente, seu avô cometeu suicídio após matar a mulher. Os personagens na obra de Palahniuk são indivíduos que, de uma ou outra forma, foram marginalizados pela sociedade, frequentemente reagindo com agressividade auto-destrutiva. O escritor lê pouca ficção, para escrever suas obras é influenciado, principalmente, por pensadores do Século XX. A narrativa nos livros de Palahniuk começam, não raramente, no seu fim cronológico, com o protagonista a recontar os eventos que conduziram ao ponto que forma o princípio do livro. Por bastantes vezes há um ponto de viragem da história, na forma de uma revelação inesperada perto do fim. O estilo de Palahniuk é caracterizado pelo uso e repetição de frases curtas plenas de humor cínico ou irônico. O autor gosta de descrever o seu estilo como “Ficção transgressional”.

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