Colher de chá colher de sopa - Fernando Andrade
Colher
de chá colher de sopa
Uma
colher de sopa. Uma colher de chá. Entre elas uma xícara. Mãe e Pai duas
colherinhas de azedume. Ali no ressonar das 10 da noite, boa, era só se eu e
Manu se escovássemos os dentes. Era o critério das fadas, era o período dos
mitos, uma correia serve à calça, mas também à corsa. E a correria por volta da
mesa buscando uma colher de chá, vamos Manu às brincadeiras? Colher de pau
esperando na sala de estar. Onomatopeia AU saindo da boca de nós duas. Chá de
espera, pai pedindo, mãe suplicando, Manu no vaso fazendo plantas da casa.
Arquiteta essa Manu! A sopa está vindo, e os sopapos vem atrás, A borda da cama,
lugar do repique, A rebarba de mais um tempinho, a rebordosa do conhaque do
pai, afetuoso este progenitor quando toma este seu pileque. Dia redivivo,
escola tortuosa.
É
dia de sábado ou domingo? Ler um pouco debaixo das cobertas, a ausência da
presença do rosto da mãe, a palavra do pai numa oração substantivada. A
quadratura dos tacos, a porta aberta do lavabo, ninfas no chuveiro, água do
enxague da pasta de dente, som da TV sendo dizimado por um pio de pássaro, e
rodopio de dança, Passo numérico, 1 e 2 são quatro, não é o quarto. Roupa no
varal, dia chuvoso, vestes ensopadas, castelo trevoso, dia e noite de sonhos.
Bala
de hortelã, estórias com elásticos, conta barba azul, conta cinderela, baita
divisa entre os gêneros contos e poemas, assim como as pernas de Manu e Paulo.
Início da partes pudendas, início dos adendos nos diálogos sobre namoro, falar
dos meninos, são precipícios, vontade de ir fazer xixi, volta ao corredor
assombrado, luz da cozinha, tudo é renitente e um pouco reticente. Ando de mãos
dadas com Manu, Antuérpia é um lugar onde existem bandolins, linhas e
trens.
Conto escrito para o encontro de
19/01/2016
Fernando
Andrade tem 46 anos, é jornalista e poeta. Trabalhou por 10 anos com livreiro e
hoje trabalha na Biblioteca Parque Estadual. Participa de dois coletivos :
Caneta Lente e Pincel e Clube da Leitura. Escreve para o site Ambrosia resenhas
de Literatura. Tem dois livros de poemas lançados pela Editora Oito e meio,
“Lacan por Câmeras Cinematográficas” e “Poemometria”.
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