Sono, por Haruki Murakami

É o décimo sétimo dia em que não consigo dormir.

Não se trata de insônia. Pois dela eu entendo um pouco. Na época da faculdade tive uma coisa parecida. Digo “parecida”, pois não posso afirmar categoricamente que aqueles sintomas estavam relacionados ao que as pessoas costumam chamar de insônia. Se eu tivesse procurado um médico, talvez ele teria me dito se aquilo era insônia ou não. Mas não procurei. Achei que seria perda de tempo. Uma decisão puramente intuitiva _ desprovida de qualquer fundamento _, pautada pelo simples fato de eu achar que não valia a pena. Portanto, não procurei ajuda médica e, tampouco, quis comentar o fato com familiares e amigos. No fundo, eu sabia que, caso comentasse isso com alguém, certamente seria aconselhada a procurar um hospital.

Essa “coisa parecida com insônia” durou cerca de um mês. Nesse período, não consegui ter uma única noite decente de sono. Todas as noites, ao me deitar na cama, eu me dizia mentalmente “agora é hora de dormir”. Mas, no mesmo instante, como um reflexo condicionado, isso me deixava em estado de vigília. Todos os esforços foram em vão. Quanto mais eu me forçava a pegar no sono, mais desperta ficava a minha consciência. Cheguei a apelar para bebidas alcoólicas e até pílulas para dormir, mas nada resolveu.


Mote para o encontro de 19/05/2020 lido por Carmen Molinari




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