Razão é o caralho, por Daniela Ribeiro



Pois estava eu arrumando a cama em formas geométricas... Meu Deus, por que Guilherme não consegue ver as formas geométricas dos lençóis e das fronhas. Ele faz de propósito! À noite me lê as maravilhas da harmonia do mundo, sobre como Kepler descobriu as órbitas dos planetas e os sons harmônicos a partir de notas musicais; de manhã é incapaz de deixar o tapete perpendicular, ou de ajeitar o lençol de modo a que se assemelhe a um retângulo sobre a cama.

Essas harmonias, teoricamente descritas, me parecem um tanto quanto míopes. De perto, de perto, não há nada rigorosamente igual ou simétrico. Se bobear, foram todas construídas a partir de heptaedros, hahahaha. É a única explicação para Bolsonaro ter ganhado as eleições, para Olavo de Carvalho ter algum público, mesmo nas redes sociais, e para o PMDB do Rio de Janeiro existir. 

Talvez, quem sabe, se sairmos às ruas armados de violões e violinos desafinados, todos tocando em uníssono infernal, não tiremos os cidadãos de bem de sua pachorra modorrenta para democraticamente trocar sopapos conosco em plena rua, Assim poderíamos mostrar a eles quem é que tem razão nessa joça. Pera!!! Razão, não!!!! Eureca!!!

Não se trata de razão! A razão leva à banalidade do mal, já havia sacado Hannah Arendt. O que precisamos é de uma tremenda pajelança, convocando Tupã e todos os orixás, com raios, trovoadas para Júpiter nenhum botar defeito. Não há razão, há revolta e turbulência, tsunami, enchente, terremoto, vulcão, tornado, incêndio e morte, muita morte.

Juntos nos afogaremos, ou arderemos, nesse convescote que os deuses nos prepararam. Humanos, formigas, vírus, morramos!

(conto lido no encontro de 16/04/2019)


Daniela Ribeiro é, sobretudo, ou tenta desesperadamente ser, antifascista


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