Sapiens, deYuval Noah Harari
Lendas,
mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com a
Revolução Cognitiva. Antes disso, muitas espécies animais e
humanas foram capazes de dizer: “Cuidado! Um leão!”. Graças à
Revolução Cognitiva, o Homo Sapiens adquiriu a capacidade de
dizer: “O leão é o espírito guardião da nossa tribo”. Essa
capacidade de falar sobre ficções é a característica mais
singular da linguagem dos sapiens.
É
relativamente fácil concordar que só o Homo Sapiens pode falar
sobre coisas que não existem de fato e acreditar em meia dúzia de
coisas impossíveis antes do café da manhã. Você nunca convencerá
um macaco a lhe dar uma banana prometendo a ele bananas ilimitadas
após a morte no céu dos macacos. Mas isso é tão importante?
Afinal, a ficção pode ser perigosamente enganosa ou confusa. As
pessoas que vão à floresta à procura de fadas e unicórnios
parecem ter uma chance menor de sobrevivência do que as que vão à
procura de cogumelos e cervos. E, se você passa horas rezando para
espíritos guardiães inexistentes, não está perdendo um tempo
precioso, tempo que seria mais bem utilizado procurando comida,
guerreando e copulando?
Mas a
ficção nos permitiu não só imaginar coisas como também fazer
isso coletivamente. Podemos tecer mitos partilhados tais como
a histórica bíblica da criação, os mitos do Tempo do Sonho dos
aborínes australianos e os mitos nacionalistas dos Estados modernos.
Tais mitos dão aos sapiens a capacidade sem precedentes de cooperar
de modo versátil em grande número. Formigas e abelhas também podem
trabalhar juntas em grande número, mas elas o fazem de maneira um
tanto rígida e apenas com parentes próximos. Lobos e chipanzés
operam de forma muito mais versátil do que formigas, mas só o fazem
com um pequeno número de outros indivíduos que eles conhecem
intimamente. Os sapiens podem cooperar de maneiras extremamente
flexíveis com um número incontável de estranhos. É por isso que
os sapiens governam o mundo, ao passo que as formigas comem nossos
restos e os chipanzés estão trancados em zoológicos e laboratórios
de pesquisa.
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