Mote do encontro 10/06
mote lido por Jeanine Salvaterra
Fernando Pessoa Me Ajudando
Noto uma coisa extremamente
desagradável. Estas coisas que ando escrevendo aqui não são, creio,
propriamente crônicas, mas agora entendo os nossos melhores cronistas. Porque
eles assinam, não conseguem escapar de se revelar. Até certo ponto nós os
conhecemos intimamente. E quanto a mim, isto me desagrada. Na literatura de
livros permaneço anônima e discreta. Nesta coluna estou de algum modo me dando
a conhecer. Perco minha intimidade secreta? Mas que fazer? É que escrevo ao
correr da máquina e, quando vejo, revelei certa parte minha. Acho que se
escrever sobre o problema da superprodução do café no Brasil terminarei sendo
pessoal. Daqui em breve serei popular? Isso me assusta. Vou ver o que posso
fazer, se é que posso. O que me consola é a frase de Fernando pessoa, que li
citada: “Falar é o modo mais simples de nos tornarmos desconhecidos.”
Crônica publicada no Jornal do
Brasil em 21 de setembro de 1968.
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro, Editora Rocco, 2008
Clarice Lispector nasceu em
Tchetchelnik, pequena cidade da Ucrânia, e chegou ao Brasil aos dois meses de
idade, naturalizando-se brasileira posteriormente. Criou-se em Maceió e Recife,
transferindo-se aos doze anos para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito,
trabalhou como jornalista e iniciou sua carreira literária. Viveu muitos anos
no exterior, em função do casamento com um diplomata brasileiro, teve dois
filhos e faleceu em dezembro de 1977, no Rio de Janeiro.
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