Sonata em Auschwitz, por Luize Valente

Eram trinta barracões que funcionavam como depósitos de tudo o que vinha nos trens e seria enviado para a Alemanha. Os nazistas puseram fogo neles quando abandonaram o campo, dias antes da libertação soviética. Diz-se que arderam por cinco dias. Uns poucos resistiram. Num deles, os russos encontraram oito toneladas de cabelo humano que seriam enviadas a fabricantes de tecidos, cordas, colchões e o que mais se fabricasse com os fios. As alemãs usavam perucas feitas de cabelos das tranças de adolescentes judias. Tudo que li revira minha mente e meu estômago. Adele viveu ali.
Os nazistas explodiram os crematórios, mas o cheiro dos mortos consumiu as entranhas de Adele. Os mortos vivem em seus silêncios.

(Editora Record, 2017). 

(Mote para o encontro de 11/06/2019)



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