A MENSAGEM, por Guilherme Preger
Parece que estou preso nessa
gaiola que é uma caixa.
Digo que parece, pois me disseram
que estou livre e posso ir para onde quiser.
E na verdade há passagens. Mas
quando as atravesso é como se saísse de uma caixa e entrasse em outra.
Há sempre paredes que são
anteparos e há nesses anteparos belas projeções que observo com contento. Creio
que são os programadores que fazem as projeções. Essas projeções também são
chamadas de diagramas.
Há janelas, muitas, que são como
furos ou brechas. E as paisagens após as janelas são também bonitas e
luminescentes.
E há pequenos orifícios onde
estão inseridos dispositivos. Nesses dispositivos chegam mensagens para mim. As
mensagens me divertem.
Também posso escrever mensagens
com os dispositivos. Eles possuem interfaces apropriadas para a escrita.
Disseram que posso escrever
qualquer coisa nas mensagens e que há uma chance das mensagens serem recebidas
por alguém (essas mensagens que recebo dos programadores chamam-se protocolos).
Quanto mais mensagens escrever, maiores
as chances de recepção.
A possibilidade de recepção me
alegra. Imagino o receptor ora rindo, ora se emocionando com as minhas
mensagens.
Porém, tenho pouco tempo para
escrever, já que recebo muitas mensagens e devo lê-las uma a uma para verificar
se me chega A MENSAGEM.
A maioria das mensagens,
entretanto, são cópias ou imitações de outras mensagens. O difícil é que sempre
preciso abrir a mensagem para saber se ela é uma cópia, uma imitação ou uma
nova.
Mas, mesmo as mensagens novas
também não me dizem muita coisa. Por isso, passo parte do meu dia apagando
mensagens inúteis.
Continuo atravessando as galerias
e as passagens, entrando em caixas que não conhecia. Os passeios são
interessantes e devaneio bastante.
Nesses devaneios penso em novas
mensagens. Eu tenho muita coisa para dizer, mas pouco tempo para escrever.
Recebi alguns retornos. Mas
percebo que apenas as mensagens menos inspiradas ou apressadas geram retornos.
Isso me desagrada.
Mas permaneço esperançoso de receber
A MENSAGEM. Pois ela virá não necessariamente como um retorno. Ela virá
repentinamente. Porém, o que me chega com constância são mensagens como
retorno.
Numa das caixas há uma claraboia.
E lá posso observar a natureza. E a natureza também envia mensagens e muitas
delas são novas.
Por exemplo, outro dia ouvi o
canto de um pássaro envelopado numa mensagem. Eu não sabia se aquela era uma
mensagem de retorno, pois eu jurava ter ouvido aquele canto antes, quando
observei um pássaro colorido pela claraboia. E naquela oportunidade eu
devaneei.
Achei que o canto do pássaro
fosse A MENSAGEM o que me trouxe enorme felicidade, mas também angústia para
entender o que aquela significava.
Passei alguns dias procurando
decifrá-la. E quando imaginava estar me aproximando de uma resposta recebo
outras mensagens com cantos de pássaros que eram cópias daquele canto. E isso
me decepcionou.
Uma das mensagens que recebi foi a
de um livro. Ele dizia que quando alguém deseja muito alguma coisa, todo o
universo conspira a seu favor.
Mas eu percebi que quanto mais eu
esperava receber A MENSAGEM, menos cada mensagem recebida me surpreendia.
Concluí que era preciso deixar de
esperar por qualquer mensagem.
Esta que escrevo é minha última
mensagem. E dela não espero retorno.
(Conto vencedor do encontro de 13/11/2018)
(Conto vencedor do encontro de 13/11/2018)
Guilherme Preger é engenheiro e escritor. É defensor das aparelhagens da escrita contra os aparelhos do espetáculo.
Gostei da ideia do Blog, mas preferia uma lingageli mais coloquial e objetiva.
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