Cinematógrafo e os cortes naturais (uma montagem ultra soviética), por Fernando Andrade
É uma experiência tocar os dois seios, e quando os toco vejo que é uma
experiência só minha. Que logo mais abaixo existe um buraco que não deve ser
ocupado por mãos vazias e nem por músculos, talvez um tímido de óculos que
ainda vejo na abertura, uma significação para entrada e saída sem alternância
de fatores. E na imagem do cinematógrafo, os cortes naturais, onde uma ocupação
que venha junto com uma montagem ultra - soviética. (Ela por baixo)
Assim minha tia me ensinou a
manejar os pais. A usá-los a meu bem querer. A ludibriá-los feito o diabo para
que não me cancelem numa cancela ou no porão musical, onde toca a rádio FM
(feminino | masculino) mais intolerável para uma menina cult. A palavra em si
já é um palavrão, um espaço privativo de liberdade e de sexualidade, embora
sirva bem à masturbação genital.
Me deram um pinto mas não o uso. Me deram uma flor mas não a digo em
público. Talvez numa junção de palavras me exercite pintando flores, sem tinta
por favor! Pintar do verbo coloquialista de aparecer por aí. Como hoje, que
pintou uma flor aqui em casa cujo nome é Rosa. Abriu as pernas e tratei logo de
lambê-la nas lábias(os) que tenho de comedora de mulheres. Chamei meu amigo
italiano Rosco para olhar e quem sabe filmar umas polaroides. Ele se excitou e
foi tirando aquele pau italiano de 18 (maioridade penal), pena que ele é gay,
um italiano gay é como um vinil que não roda na vitrola. Embora todos tenham um buraquinho no meio,
inclusive o Rosco. A Rosa tem alguns espinhos kantianos que sempre exercitam
perguntas e depois respostas.
Como ela chupa com demasiada volúpia, meu lábios ficam sempre esfolados
uns de cada lado. E possui um espírito de sopro que não é de vida, mas talvez
da habilidade de tocar flauta doce: aquela feita pelo Bode-homem-Pã. Nestas
horas o pau(em)rosco por um descuido semântico, grita, ação?! Como se ver duas
mulheres se consumindo em orgasmos fosse deixá-lo azul de metileno, o enrosco,
nós brincamos, com ele não necessariamente precisa de self (de si mesmo). Mas
ele toca uma punheta e esporra dentro de uma caixa de fósforos.
Minha tia não viveu sua sexualidade conflitante.
Por isso ela é uma espécie de guerrilheira da boa moral e dos costumes
customizados. Passou dias, meses, e anos na encolha, e fez de si uma escolha
auto deflagrada de liberdades de juízo e valor. Não pratica-mas não condena.
Talvez se lamba como uma gata com auto estima alta.
Ontem Rosa desfaleceu na minha cama. Havíamos lambido e metido no cu de
uma e de outra quando ela soltou um peido, como um odor bolorento. Rosa ficou
vermelha de vergonha e parece que o sangue foi sumindo do corpo dela, indo em
alguma direção que não se sabia se era o dedo do pé ou se de seu fio do cabelo.
Ela desfaleceu de medo de me encarar... antes disse – menina, tenho fezes neste
conduto excrementícios.
Havia alguma coisa errada, sem pulso, o coração não palpitava. Era como
se fosse dar em merda nossa trepada.
Fernando Andrade, 50 anos, é jornalista, poeta, e crítico literário. Faz parte do Coletivo de Arte Caneta Lente e Pincel. Participa também do coletivo Clube de leitura onde tem dois contos em coletâneas: Quadris no volume 3 e Canteiro no volume 4 do Clube da leitura. Colaborador no Portal Ambrosia realizando entrevistas com escritores e escrevendo resenhas de livros. Tem dois livros de poesia pela editora Oito e Meio, Lacan Por Câmeras Cinematográficas e Poemoemetria , e Enclave ( poemas) pela Editora Patuá. Seu poema "A cidade é um corpo" participou da exposição Poesia agora em Salvador e no Rio de Janeiro. Acabou de lançar seu quarto livro de poemas, a perpetuação da espécie pela Editora Penalux.
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