O livro do desassossego, de Fernando Pessoa
Quando outra virtude não haja em mim, há pelo menos a da perpétua novidade da sensação liberta.
Descendo hoje a Rua Nova do Almada, parei de repente nas costas do homem que a descia diante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, no ritmo de andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva na mão direita.
Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem. Senti por ele a ternura que se sente pela comum vulgaridade humana, pelo banal quotidiano do chefe de família que vai para o trabalho, pelo lar humilde e alegre dele, pelas pequenas alegrias e tristezas de que forçosamente se compõe a sua vida, pela inocência de se viver sem analisar, pela naturalidade animal daquelas costas vestidas.
Desvio os olhos das costas daquele meu adiantado, e passando-os a todos mais, quantos vão andando nesta rua, a todos abarco nitidam…
Descendo hoje a Rua Nova do Almada, parei de repente nas costas do homem que a descia diante de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, no ritmo de andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva na mão direita.
Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem. Senti por ele a ternura que se sente pela comum vulgaridade humana, pelo banal quotidiano do chefe de família que vai para o trabalho, pelo lar humilde e alegre dele, pelas pequenas alegrias e tristezas de que forçosamente se compõe a sua vida, pela inocência de se viver sem analisar, pela naturalidade animal daquelas costas vestidas.
Desvio os olhos das costas daquele meu adiantado, e passando-os a todos mais, quantos vão andando nesta rua, a todos abarco nitidam…
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