Jair, por Poliana Paiva
Muito
embora seja filho da união estável de duas mulheres hoje com 65
anos, Jair sempre foi um sensível de fachada, desses que leram
Simone, gostam de Mc Carol, aplaudem o protagonismo feminino mas na
hora do vamo ver, na hora que o cinto aperta, que a vontade é
destra, vão lá e destilam sua condescendência auto-imune.
Jair tem
pau grande. E grosso. Dizem as boas línguas que se trata de um pau
hábil e expressivo. Um pau democrático. Até a página dois,
naturalmente, afinal, uma coisa que Jair nunca assume é sua
preferência pelo padrão. Jair beija a loira de barriga negativa no
chorinho de domingo de manhã na praça lotada e a mulata gorda nos
cantos escuros do baile funk, onde, disfarçado de burguesia
folclórica, pode abrir seu coração e ser ele mesmo.
No fundo
Jair queria era poder dizer aos quatro ventos que mulher, se não
tivesse boceta, ele não dava nem bom dia. Mas isso pegaria muito mal
e faria com que ele passasse aperto com as intelectuais que gosta de
seduzir e que, ou serão por ele comidas, ou lhe apresentarão alguma
nova gatinha gratidão-mantra da lua-oficina de bambolê.
Para
caras como Jair, não importa o que se sente. Importa o que se pensa
que se sente. E o que se mostra. E o que se posta no face, no insta,
no twitter e no snap. Jair vive de imagem. Jair pensa que é scanner.
Resta
saber o quão pobre ficará Jair na hora exata que sua bundinha
jiu-jitsu cair.
(Conto lido no encontro de 20/09/2016)
Poliana Paiva é formada em Cinema pela UFF e em Teatro pela CAL. Roteirista e atriz, já fez programas de auditório, de revista e de ficção, além de ter escrito e dirigido 4 curtas. Tem um canal no Youtube 'Tudo sobre Jasmine', onde escreve, atua e dirige. Há alguns meses, vem fazendo participações em esquetes do Porta dos Fundos.
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