A palestra - Guilherme Preger



A palestra


Como bem escreveu Karl Marx, a história só se repete como farsa, ou segundo Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios.  E o que fazer quando há, conforme Exodus 21,  a crença primitiva de que é olho por olho, dente por dente, ou outra ideia tão antiga de que, de acordo com Heráclito, a guerra é o pai e o rei de todos os homens?  Não é possível mais se esconder, pois, como escreveu Bertold Brecht, a guerra é como o amor e sempre encontra um caminho. Assim, Dante Aligheri dizia que os piores lugares da escuridão infernal estavam destinados aos que mantêm sua neutralidade em tempos de crise moral.  É imperativo tomar uma posição, pois como demonstrou Schopenhauer, toda guerra tem três fases:  primeiro começa como algo ridículo, depois é violentamente combatida; finalmente é encarada como auto-evidente. Ésquilo dizia que a verdade, na guerra, é a primeira a morrer.  E está escrito em João 8, que a verdade nos libertará.  É preciso, pois, acabar com a guerra antes que a guerra acabe com a gente, como diria J.F. Kennedy. Mas a paz, como disse Nehru, não é apenas ausência de guerra. George Orwell certa vez escreveu que as pessoas podem dormir tranquilamente porque há homens duros prontos para fazer violência por elas. O sábio Sun Tzu, em seu clássico, a Arte da Guerra, já dizia que a suprema mestria é dominar seu inimigo sem ter que lutar contra ele. James Watkins, por sua vez, observava que uma das principais características da era moderna é o permanente estado do que ele chamou de “paz violenta”.   Não há monumento de civilização que não seja também um monumento de barbárie, na famosa frase de Walter Benjamin. Assim, dê uma chance à paz, como cantou John Lennon, e ame o próximo, como queria Jesus Cristo, mas não perca tempo dizendo o quanto você ama seu vizinho, aja como se o amasse, como diria C.S. Lewis. Faça amor, não faça guerra.


Conto escrito para o encontro de 29/07/2014






Guilherme Preger é escritor e engenheiro, autor de Capoeiragem (7Letras) e está no Clube da Leitura desde sua fundação. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Vamos comprar um poeta, por Afonso Cruz

Homens não choram