O homem perante a natureza, de Blaise Pascal
A primeira coisa que se oferece ao homem
ao contemplar-se a si próprio, é seu corpo, isto é, certa parcela de matéria
que lhe é peculiar. Mas, para compreender o que ela representa a fixá-la dentro
de seus justos limites, precisa compará-la a tudo o que se encontra acima ou
abaixo dela. Não se atenha, pois, a olhar para os objetos que o cercam,
simplesmente, mas contemple a natureza inteira na sua alta e plena
majestosidade. Considere esta brilhante luz colocada acima dele como uma
lâmpada eterna para iluminar o universo, e que a Terra lhe apareça como um
ponto na órbita ampla deste astro e maravilhe-se de ver que essa amplitude não
passa de um ponto insignificante na rota dos outros astros que se espalham pelo
firmamento. E se nossa vista aí se detém, que nossa imaginação não pare; mais
rapidamente se cansará ela de conceber, que a natureza de revelar . Todo esse
mundo visível é apenas um traço perceptível na amplidão da natureza, que nem
sequer nos é dado a conhecer de um modo vago. Por mais que ampliemos as nossas
concepções e as projetemos além de espaços imagináveis, concebemos tão somente
átomos em comparação com a realidade das coisas.
Esta é uma esfera cujo centro se
encontra em toda parte e cuja circunferência não se acha em alguma. E o fato de
nossa imaginação perder-se neste pensamento constitui, em suma, a maior
manifestação da onipotência de Deus.
Que o homem, voltado para si próprio,
considere o que ele é diante do que existe; que se encare como um ser
extraviado neste pequeno setor da natureza, e que da pequena cela onde se
acha preso, do universo, aprenda a avaliar em seu valor exato a terra, os
reinos, as cidades e ele próprio. Que é um homem diante do infinito?
(Mote lido por Gabriel Cerqueira para o encontro de 11/07/2017)
Blaise Pascal foi um teólogo, filósofo, matemático, físico, inventor e escritor francês. Nasceu em 19 de junho de 1623 em Clermont-Ferrand. Sua curiosidade na infância revelou ser um estado latente de genialidade, pois conseguiu reproduzir proposições matemáticas de Euclides de Alexandria aos 12 anos de idade mesmo sem nunca ter estudado tal ciência. Ao longo de sua brilhante carreira desenvolveu a geometria do acaso, o Triângulo de Pascal, o Tratado do Equilíbrio dos Líquidos, inventou a primeira calculadora mecânica - a Pascalina -, escreveu diversas obras teológicas, entre outras contribuições científicas e filosóficas. Faleceu vítima de câncer no estômago em 19 de agosto de 1662, aos 39 anos, em Paris.
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