Os Demônios, por Fiódor Dostoiévski (trecho)

 Contexto: por volta de 1870, na Russia, um niilista/anrquista/socialista?  tenta criar um grupo para desestabilizar o governo e a sociedade. No trecho selecionado ele  conversa sobre o assunto com um possível participante.


“_ Quer dizer então que a coisa está andando com dificuldade? Há obstáculos?

_ Andando? Não podia ir melhor. Vou fazê-lo rir: a primeira coisa que surte um efeito terrível é o uniforme. Não há nada mais forte do que um uniforme. Eu invento de propósito patentes e funções: tenho secretários, agentes secretos, um tesoureiro, presidentes, registradores e suplentes _ a coisa agrada muito e foi magnificamente aceita. A força seguinte é o sentimentalismo, é claro. Sabe , entre nós o socialismo vem se difundindo predominantemente por sentimentalismo. Mas aí há um  mal, esses alferes com mania de morder; de vez em quando a gente esbarra neles. Depois vêm os vigaristas genuínos; bem, esses são uma gente boa, às vezes muito proveitosa, mas se perde muito tempo com ela, precisa de uma vigilância infatigável. Por fim a força mais importante_ o cimento que liga tudo_ é a vergonha da própria opinião. Isso sim é que é força. Acham uma vergonha ter idéia própria. Pois é justamente com esse tipo de gente que o êxito é possível  “.


(Mote lido por Carmen Molinari para o encontro de 27/04/2021)

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