Gricha, por Anton Tchecov

TCHEKHOV, Anton P. Gricha. In: A dama do cachorrinho. São Paulo: Editora 34, 2015.

Gricha, menino pequeno, rechonchudo, que nasceu há dois anos e oito meses, está passeando na avenida com a babá. Veste um longo albornozinho forrado de lã, um xale, um grande chapéu com borla felpuda e galochas quentes. Sente calor e falta de ar; e ainda o alegre sol de abril bate-lhe bem nos olhos e belisca-lhe as pálpebras.

Toda a sua figurinha desajeitada, que vai caminhando com timidez e indecisão, reflete uma perplexidade extrema. 

Até agora, Gricha conhecia apenas o mundo quadrangular, onde, num dos cantos, fica sua cama, noutro, o baú da babá, no terceiro, uma cadeira e, no quarto, um velador sob uma imagem. Espiando-se para baixo da cama, vêem-se uma boneca de braço quebrado e um tambor. Atrás do baú da babá, existem muitos objetos diferentes: carretéis de linha, papeizinhos, uma caixinha sem tampa e um palhaço quebrado. Além da babá e de Gricha, aparecem com frequência, neste mundo, mamãe e o gato. Mamãe parece uma boneca e o gato parece a peliça do papai, só que a peliça não tem olhos, nem rabo. No mundo chamado quarto de criança, há uma porta que dá para um espaço, onde as pessoas jantam e tomam chá. Ali, ficam a cadeirinha alta de Gricha e o relógio de parede, que existe unicamente para balançar o pêndulo e soar de vez em quando. Da sala de jantar, pode-se passar para um quarto com poltronas vermelhas. Ali, sobre o tapete, aparece uma grande mancha, por causa da qual se costuma, até hoje, ameaçar Gricha com o dedo. Além desse quarto, há um outro, onde não deixam entrar e onde aparece papai, uma personagem extremamente misteriosa! A babá e mamãe são compreensíveis: elas vestem Gricha, servem-lhe comida e deitam-no para dormir, mas para que existe o papai, não se sabe. Existe ainda outra personagem misteriosa: a tia que presenteou Gricha com o tambor. Ora aparece, ora desaparece. Para onde é que ela vai? Mais de uma vez, Gricha espiou embaixo da cama, atrás do baú e debaixo do divã, mas ela não estava lá...

(Mote lido por Daniela Ribeiro para o encontro de 06/10/2020

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