Tweedledum e Tweedledee, por Lewis Carroll
Estavam de pé sob uma
árvore, cada um com o braço em volta do pescoço do outro. No mesmo
instante Alice pôde distinguir quem era quem, pois um tinha um "DUM"
bordado no colarinho e o outro "DEE". "Aposto que
todos dois têm "TWEEDLE" na parte detrás do colarinho",
disse para si mesma.
Estavam tão quietos que
ela se esqueceu totalmente de que eram vivos e já ia dar a volta
para ver se a palavra "TWEEDLE" estava escrita na parte
detrás do colarinho quando teve um sobressalto ao ouvir a voz
daquele que estava marcado 'DUM".
- Se você pensa que
somos imagnes de cera - ele disse - então devia pagar, não acha?
Imagens de cera não foram feitas para serem vistas de graça. De
modo algum!
- Contrariamente -
acrescentou o que estava marcado "DEE" - se acha que
estamos vivos, então você deve falar.
- Peço mil desculpas -
foi tudo o que Alice pôde balbuciar. Pois os versos de velha canção
soavam na sua cabeça como se fossem o tique-taque de um relógio, e
ela mal podia se conter de recitá-los alto:
Tweedledum e
tweedledee
Vão lutar de foice e
faca
Pois Tweedle Dum diz
que Dee
Quebrou-lhe a nova
matraca.
Eis que surge um corvo
horrendo
Tão negro como o
alcatrão
E os dois heróis
correndo
Tudo esquecem, em
confusão.
_ Já sei em que é que
você está pensando - disse Tweedledum, mas não é nada disso, de
modo algum.
- Contrariamente,
continuou Tweedledee - se assim era, então poderia sê-lo; e se
assim o fosse, então seria; mas como assim não é, então não
será. É lógico.
- Eu estava querendo
saber - disse Alice muito educadamente -, qual é a melhor maneira de
sair deste bosque: está ficando tão escuro. Vocês podiam me dizer,
por favor?
Mas os dois gorduchos
apenas se entreolharam, arreganhando os dentes.
Pareciam tanto com uma
dupla de colegiais grandes que Alice não pôde resistir à tentação
de apontar o dedo para Tweedledee e dizer: - Você aí, o primeiro!
De modo algum! - gritou
Tweedledum - A primeira coisa que se faz numa visita é dizer:
"Prazer em conhecê-los!" e apertar as mãos. - Nesse ponto
os dois irmãos se deram um abraço e estenderam as mãos que estavam
livres para apertar a mão dela.
Alice não podia apertar
a mão de nenhum dos dois em primeiro lugar, por temor de ferir à
susceptibilidade do outro. Assim, resolveu a questão apertando as
mãos de ambos ao mesmo tempo.: logo de imediato começaram a dançar
em círculo. Isso lhe pareceu muito natural (como lembrou depois) e
não ficou surpreendida nem mesmo de ouvir música. Precia descer da
árvore sob a qual estavam dançando e era produzida (na medida em
que pôde observar) pelos galhos que se friccionavam uns sobre os
outros, como se fossem um violino e um arco de violino.
"Mas com certeza era
muito engraçado" (cimentou Alice depois quando contou toda essa
história à sua irmã)", ver que eu mesma estava cantando. "se
esta rua, se esta rua fosse minha". Não sei quando foi que
comecei, mas era como se estivesse cantando há muito, muito tempo!".
Mote lido por Guilherme Preger
CARROL, Lewis. Aventuras
de Alice no País das Maravilhas/ Através do espelho e o que Alice
encontrou lá. Trad. Sebastião Uchoa Leite. São Paulo, Summus
Editorial, 1980.
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