Todo aquele jazz - Geoff Dyer
Recomendação de leitura por Marco Antonio Martire
Nem lembro onde foi que eu catei esta
dica. Devo ter esbarrado em alguma resenha sobre "Todo aquele jazz"
publicada em um caderno literário. Não sou um ouvinte compulsivo do gênero, estou
longe disso, sabia que passaram por este pequeno planeta um e outro gênio do
assim chamado jazz. Um e outro não, agora estou sendo descuidado, passaram mesmo
inúmeros, em um espaço de tempo extremamente breve. O inglês Geoff Dyer
procurou captar a essência daqueles férteis anos. Não é brincadeira não... Lester
Young, Duke Ellington, Billie Holliday, Thelonius Monk, Charlie Mingus, Bud
Powell, Chet Baker, Art Pepper, todos estes cederam partes de suas raras biografias
para os contos deste livro. Neles ficção e realidade se misturam, ficção e
realidade são as servas da vontade criativa desse autor, que fala de artistas
com vastas obras registradas, ainda hoje executadas e estudadas. As vidas desses
artistas cabem perfeitamente na ficção deste livro, são propícias à criação,
mais ou menos como um valioso solo de jazz brilha ao ignorar a partitura. Talvez
só a ficção seja capaz de descrever a sofrida e monumental solidão desses
gênios, só esta recriação dá conta. "Todo aquele jazz" não suaviza a
mensagem, não doura a pílula para que ela desmanche docemente no paladar do fã de
belas historinhas. Dyer compõe um espelho verdadeiro, ainda que ficcional. Porque
captura com competência o espaço ocupado por esses jazzistas. Ali, onde hoje suas
composições habitam, viviam eles em conflito constante. Vícios em álcool e
outras drogas, prisões arbitrárias, brigas terríveis, perturbações psíquicas, preconceitos,
eram males que eles se metiam a enfrentar. Criar não tinha a ver com procurar
uma saída, criar era só o que sabiam fazer. O jazz era o único instrumento em
condições de lhes oferecer a inevitável individualidade, tocar jazz foi o meio
que descobriram para conseguirem ser eles mesmos. Felizes ou não, eles tiveram que
assim abrir caminho, vidas que são tão emocionantes quanto suas composições. E
é por isso que eu indico este livro: ouvir jazz, ler sobre jazz, é muito bom. É
certamente uma questão de emoção à flor da pele.
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